Eu devia ter uns 5 anos, estávamos em casa eu, minha tia e minha avó.
Bateram na porta, era tarde da noite, eu acho que era, porque com essa idade passou das 20 horas está tarde.
- Quem está aí?
Ninguém respondeu, então minha avó ficou repetindo a mesma pergunta várias vezes. Nós chegamos à conclusão que deveria ser a Dona Albertina, uma senhorinha surda que era nossa vizinha. Minha tia abriu a porta.
Ao abrir a porta, foi surpreendida por uma arma bem no meio da lata. O cara mandou todo mundo ficar quietinho que era um assalto, eu me escondi bem rapidinho, tomei maior susto ao ver aquela assombração gigante e careca.
Minha avó não teve dúvida, ela estava escondida atrás da porta com uma vassoura, dessas de piaçava, desceu o cacete na careca do ladrão, com toda a força que ela tinha.
O ladrão caiu.
O problema é que ele levantou rapidinho.
- Oh dona, a senhora é doida, é? Não tem medo de morrer, não? Me bater assim na cabeça?
- Ah o senhor está enganado, eu não bati. O senhor é que bateu a cabeça quando entrou (e apontava para o armário bem colado à porta).
O ladrão coçou a cabeça confuso e começou a apontar a arma para ela. A doida enfiou o dedo indicador no cano da arma:
- O senhor abaixa essa coisa, não mostra isso aqui em casa. O Sangue de Jesus tem poder, aqui nesta casa o senhor não vai conseguir fazer mal para ninguém.
O homem ficou enfurecido, mas a minha avó não arredava o pé do lugar, nem o diabo do dedo...
- O senhor não vai levar a TV porque, como o senhor pode ver, a gente é bem pobre, só tem essa. Se o senhor levar a TV, a minha neta não vai mais ter TV para assistir, e essa daí é preto e branco e usada.
- O rádio eu posso levar?
- Pode levar o rádio, não é bom porque minha irmã acorda para trabalhar com ele. Por sua causa ela vai perder a hora amanhã.
- A senhora está achando que eu estou de brincadeira, não está?
- Eu? Imagina, eu sei que o senhor está trabalhando. Mas por que não foi roubar dos ricos e veio roubar este cortiço aqui? A gente não tem nada meu filho.
O ladrão pegou o rádio, um dinheirinho da minha tia e deu boa noite.
- Vai com Deus filho! Vê se toma juízo.
Ao fechar a porta, minha tia estava branca que nem papel, não tinha dado uma palavra durante toda a ação. Minha avó muito calma declarou:
- Mas você é uma pamonha mesmo hein!
Minha tia:
- Você é doida Dina, doida. Você podia ter morrido. Por que você colocou o dedo no revólver do ladrão?
- Que morrido o quê... Deixa de ser besta, deu tudo certo, amanhã a gente compra outro radinho. Pelo menos a menina não ficou sem TV, aliás, cadê a Flávia?
- Fláviaaaaaaaaaa... Sai daí minha filha, a vovó já resolveu tudo, o homem feio já foi...
*Saudade eterna da minha avó valente. Vó te amo!
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